As vistas oblíquas da Chapada Diamantina: De Lençóis ao Capão

Das lindas praias do sul da Bahia até a Chapada Diamantina fizemos uma viagem desnecessariamente cara e longa em ônibus. O que teria durado 7 horas em carro (478km) demorou 14 horas em ônibus com uma escala de 50 minutos em Feira de Santana e custou 140 reais. Triste. Me fez questionar se no Brasil a carona não é um meio de transporte mais seguro e rápido do que o ônibus.

Eramos três; eu, Katty e Sam, um sueco que virou amigo ao longo das últimas semanas viajando juntos. Saímos de Itacaré no último sábado às 9 horas e foi na parada de Valença que, fumando um beque, conhecemos o Rafa, alemão de origem carioca. O Rafa também estava indo para Lençóis e já tinha lugar para ficar, a casa de um amigo de um amigo. Nós não.

E realmente, uma das maiores belezas de viajar é observar a “lei natural dos encontros”. Chegando em Lençóis, às 23:30, o Rafa encontrou com seu anfitrião, o Gustavo, que já mora em Lençóis a 2 anos. Gustavo se desfez dos seus afazeres para caminhar 15 minutos da rodoviária até um hostel que deveria ser necessariamente barato tendo em vista a nossa modesta economia.

Ele nos levou até o MangaMel, a guesthouse da Betina e do Douglas, um casal muito simpático e agradável que têm um bebê muito fofo, a Samadhi. Ali decidimos largar as mochilas e repousar nossas costas cansadas, sabendo que os próximos dias se anunciavam intensos e cansativos.

Lençóis tem somente 10.000 habitantes e conserva um ar bem colonial; ruas pacatas, casas de pedra, restos do passado da corrida pelo diamante. Nas ruas se sente a atmosfera hippie através das roupas e restaurantes nos quais se ouve conversas sobre Ayahuasca, comida orgânica e vegetariana, ioga, medicina natural…

Domingo

O nosso primeiro dia foi o dia de tomar um café da manhã reforçado na Rua das Pedras, no centrinho histórico, e subir o Rio Lençóis para encontrar piscinas naturais e a Cachoeirinha.

Segunda-feira

Na segunda fomos conhecer os Salões de areia e subimos um pouco mais o rio. Ali encontramos o Rafa, o Gustavo, e seus amigos David e Alex e começamos formar um grupo de caminhada para os próximos dias. Combinamos de ir conhecer uma cachoeira no dia seguinte.

Terça-feira

São 6 horas para ir e voltar da Cachoeira do Sossego. Vale a pena. A trilha não é fácil de se seguir. Ela não precisa ser feita com guia mas você corre o risco de se perder. No caminho dá tempo de ir conhecer o Ribeirão do Meio e escorregar pela corredeira que se forma, uma espécie de tobogã natural muito divertido.

Saímos às 9 horas para andar por uma trilha que sobe a montanha a maior parte do tempo. No final da trilha o único jeito é caminhar pelo leito do rio o quê faz a caminhada ficar mais lenta e cansativa.

Chegando lá avistamos uma queda de água que forma uma imensa piscina natural de águas negras avermelhadas envoltas por um paredão. Lindo, lindo! E dá para pular do alto de uns 10 metros de um trampolim natural. Levamos um lanchinho e ficamos lá tanto tempo que fizemos a última parte da trilha de volta de noite.

Quarta-feira

Sem tempo para descansar. Os nossos amigos não tinham muito tempo então marcamos de nos encontrar, nós 6, comprar comida e fazer a trilha de 23km até o Vale do Capão. Se aconselha contratar um guia mas os guias locais cobram preços exorbitantes, o gringo-price chega a 200 reais por pessoa por dia! O nosso guia foi o aplicativo Maps.me, vale a pena baixar antes de vir para a Chapada. O GPS do Smartphone e as marcações ao longo da trilha foram de grande ajuda para chegar até o Capão sem muito problema.

Saímos às 13:30 e acampamos chegando em um rio às 17:30. A caminhada não é para principiantes e sedentários porque saindo de Lençóis você vai enfrentar uma baita subida. Mas o cenário é incrível e é possível observar mudança de tipos de vegetações de acordo com as mudanças de altitude.

Fizemos uma fogueira e uma janta com macarrão e um molho de berinjela e tomate. O céu azul de antes do crepúsculo logo não tinha estrelas o que anunciava uma chuva forte se aproximando. Logo que terminamos de comer, conversar, fazendo música e fumando fomos dormir e começou a chover forte toda a noite.

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Alex e Sam  improvisando utensílios de cozinha
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David, Katty, Cristiano, Sam, Rafa, Alex e nossa fogueira.

Quinta-feira

Amanheceu e o céu ainda estava cinzento e escuro. Minha barraca aguentou bem a chuva mas os outros ficaram com suas coisas bem molhadas. O sol não demorou a sair mas nós sim. Andamos durante toda a tarde de um dia quente e chegamos ao Vale do Capão um pouco antes de anoitecer, passando pela incrível vista do Morrão.

No Capão encontramos o camping mais barato, o Camping do Seu Dai (negociamos 13 reais, cozinha bem suja). Ali dormimos cedo no chão de terra batida.

Sexta-feira

A atmosfera do Capão é bem hippie esotérica. O lugar é cheio de pessoas do todo o mundo que adotaram um estilo de vida saudável, tranquilo e mais em sintonia com a natureza.

Nada nessa viagem tinha sido planejado, mas simplesmente fluiu de no dia seguinte irmos fazer a trilha da Cachoeira da Fumaça. São duas horas desde o Capão. Não é necessário guia mas a primeira subida do paredão que se vê do vale é intensa.

Ao chegar na cacheira que estava seca, sem água, a vista é de dar vertigem. A queda é alucinante, e é possível avistar a vegetação mais fechada no fundo do abismo contrastando com a seca de altitude chamada “gerais” em cima da chapada.

Apesar da beleza é triste pensar que a Chapada enfrenta a pior seca desde 2008, a época de chuvas já passou e não choveu. A mudança climática gerada pela ganância do homem já afeta bastantes lugares com um clima delicado como aqui e rios que nunca secaram antes começam a secar.

Passamos o dia relaxando em cima de pedras com vistas oblíquas mas logo já era hora de voltar. O dia seguinte também seria longo.

Sábado

Decidimos voltar para Lençóis. Nos separamos em dois grupos para ir de carona pelos 70km de estrada que separam os dois povoados. Do Capão até Palmeiras a estrada é de terra e não há transporte a não ser táxis. Demoramos aproximadamente uma hora nessa estrada. Não foi difícil encontrar locais que aceitaram de nos ajudar. De Palmeiras até a BR-242 um ônibus escolar nos levou. No final demorou uma tarde para chegar, no total 5 carros nos levaram. Tudo em que eu pensava durante o caminho era em jantar e em dormir em uma cama confortável. Hora de um descanso merecido. Até a próxima! Logo, logo faremos mais trilhas.

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